Ictioses Congénitas: Série de 11 Casos da Consulta Multidisciplinar de Dermatologia Pediátrica, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central

  • Ana Sofia Borges Serviço de Dermatovenereologia, Hospital Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • A. Cordeiro Serviço de Pediatria, Hospital D. Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Ana Brasileiro Serviço de Dermatovenereologia, Hospital Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Maria João Paiva Lopes Serviço de Dermatovenereologia, Hospital Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
Palavras-chave: Dermatopatias Genéticas, Eritrodermia Ictiosiforme Congénita, Esteril-Sulfatase, Ictiose Lamelar

Resumo

Introdução: As ictioses são um grupo heterogéneo de distúrbios genéticos hereditários que ocorrem devido a um defeito da queratinização e consequente disrupção da função de barreira cutânea. Embora raras, elas apresentam-se como um desafio clínico, em particular face ao correto diagnóstico e opções terapêuticas. Este estudo teve como objectivo principal caracterizar clinica e genotipicamente os casos de ictioses congénitas não sindrómicas e avaliar possível relação genótipo-fenótipo face aos dados mais recentes na literatura.

Métodos: Realizámos um estudo retrospetivo onde foram incluídos todos os casos com diagnóstico clinico e confirmação genética de ictioses congénitas não sindrómicas da Consulta Multidisciplinar de Dermatologia Pediátrica do Hospital D. Estefânia do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central.

Resultados: Foi analisado um total de 11 doentes com idades compreendidas entre os 20 meses e os 16 anos de idade. Quatro tinham a forma recessiva ligada ao X com mutação no gene da esteróide-sulfatase sendo que três deles manifestaram-se tipicamente pelo aparecimento ao nascimento de descamação poligonal cinza-acastanhada de distribuição generalizada e um com manifestações mais ligeiras compatíveis de xerose e eczema. Os restantes sete doentes tinham uma forma autossómica recessiva, quatro deles com mutação no gene TGM1, dois no ALOX12B e um no CYP4F22. Relativamente à evolução e prognóstico, verificou-se que o mesmo gene mutado foi responsável por um amplo espectro de manifestações clínicas, confirmando a dificuldade em estabelecer uma relação genótipo-fenótipo para estes doentes.

Conclusão: Os avanços na área da genética têm sido fundamentais para a melhor compressão da fisiopatologia e evolução clínica das ictioses congénitas. No entanto, dado o amplo espectro fenotípico associado a uma mutação no mesmo gene, o estabelecimento de uma relação genótipo-fenótipo que possibilitaria um correto prognóstico, nem sempre é possível. Embora raras, os autores salientam a importância de mais estudos de modo a melhorar a qualidade de vida dos doentes com estas genodermatoses.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Oji V, Tadini G, Akiyama M, Blanchet Bardon C, Bodemer C, Bourrat E, et al. Revised nomenclature and classification of inherited ichthyoses: results of the First Ichthyosis Consensus Conference in Sorèze 2009. J Am Acad Dermatol. 2010; 63:607-41. doi: 10.1016/j.jaad.2009.11.020.

Rice RH, Durbin-Johnson BP, Mann SM, Salemi M, Urayama S, Rocke DM,et al. Corneocyte proteomics: Applications to skin biology and dermatology. Exp Dermatol. 2018; 27:931-8. doi: 10.1111/exd.13756.

Zaki T, Choate K. Recent advances in understanding inherited disorders of keratinization. F1000Res.

;7. pii: F1000 Faculty Rev-919. doi: 10.12688/f1000research.14514.1

Schmuth M, Gruber R, Elias PM, Williams ML. Ichthyosis update: towards a function-driven model of pathogenesis of the disorders of cornification and the role of corneocyte proteins in these disorders. Adv Dermatol. 2007; 23:231-56.

Traupe H, Fischer J, Oji V. Nonsyndromic types of ichthyoses - an update. J Dtsch Dermatol Ges. 2014;12:109-21. doi: 10.1111/ddg.12229

Takeichi T, Akiyama M. Inherited ichthyosis: Non-syndromic forms. J Dermatol. 2016; 43:242-51.

Hand JL, Runke CK, Hodge JC. The phenotype spectrum of X-linked ichthyosis identified by chromosomal microarray. J Am Acad Dermatol. 2015 72:617-27. doi: 10.1016/j.jaad.2014.12.020.

Kent L, Emerton J, Bhadravathi V, Weisblatt E, Pasco G, Willatt LR, et al. X-linked ichthyosis (steroid sulfatase deficiency) is associated with increased risk of attention deficit hyperactivity disorder, autism and social communication deficits. J Med Genet. 2008; 45:519-24. doi: 10.1136/jmg.2008.057729.

Prado R, Ellis LZ, Gamble R, Funk T, Arbuckle HA, Bruckner AL. Collodion baby: an update with a focus on practical management. J Am Acad Dermatol. 2012; 67:1362-74. doi: 10.1016/j.jaad.2012.05.036.

Esposito G, De Falco F, Neri I, Graziano C, Toschi B, Auricchio L, et al. Different TGM1 mutation spectra in Italian and Portuguese patients with autosomal recessive congenital ichthyosis: evidence of founder effects in Portugal. Br J Dermatol. 2013; 168:1364-7. doi: 10.1111/bjd.12179.

Vahlquist A, Bygum A, Ganemo A, Virtanen M, HellströmPigg M, Strauss G, et al. Genotypic and clinical spectrum of self-improving collodion ichthyosis: ALOX12B, ALOXE3, and TGM1 mutations in Scandinavian patients. J Invest Dermatol. 2010; 130:438-43. doi: 10.1038/jid.2009.346.

Ohno Y, Nakamichi S, Ohkuni A, Kamiyama N, Naoe A, Tsujimura H, et al. Essential role of the cytochrome P450 CYP4F22 in the production of acylceramide, the key lipid for skin permeability barrier formation. Proc Natl Acad Sci U S A. 2015; 112:7707-12. doi: 10.1073/pnas.1503491112.

Hotz A, Bourrat E, Küsel J, Oji V, Alter S, Hake L, et al. Mutation update for CYP4F22 variants associated with autosomal recessive congenital ichthyosis. Hum Mutat.

;39:1305-13. doi: 10.1002/humu.23594.

Publicado
2019-03-26
Como Citar
Borges, A. S., Cordeiro, A., Brasileiro, A., & Paiva Lopes, M. J. (2019). Ictioses Congénitas: Série de 11 Casos da Consulta Multidisciplinar de Dermatologia Pediátrica, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central. Revista Da Sociedade Portuguesa De Dermatologia E Venereologia, 77(1), 25-32. https://doi.org/10.29021/spdv.77.1.1013
Secção
Artigos Originais