Risco de Recidiva a 5 Anos Após Excisão Convencional de um Carcinoma Basocelular

  • Bruno Duarte Dermatology and Venereology Department, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisbon, Portugal http://orcid.org/0000-0003-4757-0679
  • Luis Vieira Plastic and Reconstructive Surgery Department, Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisbon, Portugal http://orcid.org/0000-0002-9353-2537
  • Luis Ribeiro Plastic and Reconstructive Surgery Department, Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisbon, Portugal
  • Tomás Pessoa e Costa Dermatology and Venereology Department, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisbon, Portugal
  • Alexandre João Dermatology and Venereology Department, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisbon, Portugal
  • Alice Varanda Plastic and Reconstructive Surgery Department, Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisbon, Portugal
  • Joana Cabete Dermatology and Venereology Department, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisbon, Portugal
Palavras-chave: Carcinoma Basocelular, Neoplasias da Pele, Procedimentos Cirúrgicos Dermatológicos

Resumo

Introdução: O tratamento dos carcinomas basocelulares é maioritariamente cirúrgico, sobretudo por cirurgia com avaliação histopatológica pós-operatória da margem (cirurgia convencional), mas os dados a longo-prazo relativos a recidiva de acordo com o resultado histológico da margem (excisão completa versus excisão incompleta, mantida em follow-up) são limitados.

Métodos: Estudo coorte retrospetivo dos carcinomas basocelulares tratados por cirurgia convencional e por diferentes especialidades médico-cirúrgicas num centro terciário, entre 2008 e 2014. Realizou-se uma análise multivariada com uma regressão de Cox, estratificada pelo resultado da avaliação histológica da margem (excisão completa/incompleta) e ajustada a várias variáveis recolhidas.

Resultados: Um total de 2876 carcinomas basocelulares foram identificados, dos quais 2306 [2100 primários, 206 recidivantes (primeira recidiva)] foram considerados elegíveis para análise. Nos 5 anos de follow-up, verificaram-se 80 (4%) recidivas entre os 1959 tumores completamente excisados (16/1000 casos-ano), contrastando com 83 (23,9%) recidivas em 347 excisões incompletas (100/1000 casos-ano). Foi realizada uma análise de sobrevida ajustada. No modelo final, ajustado, multivariado, foi identificada associação entre recidiva e intervenção cirúrgica a tumores recorrentes [hazard ratio (HR) ajustado 2,20 (Intervalo confiança (IC) 95%, 1,26-3,84), p=0,006], cirurgia com diagnóstico pré-operatório errado/ausência de realização de biópsia prévia [HR ajustado 2,75 (IC 95%, 1,68-4,5), p<0,001], tratamento prévio a 2012 [HR ajustado 1,47 (CI 95%, 1,06- 2,05), p<0,021] e cirurgia em localização de alto-risco, de acordo com a classificação NCCN [HR ajustado 2,18 (IC 95%, 1,08- 4,40), p<0,030]. Por localização anatómica específica, a probabilidade de recidiva a longo-prazo é especialmente elevada se a cirurgia for na pirâmide nasal [HR ajustado 3,18 (IC 95%, 1,71-5,87), p<0,001] ou nas pálpebras [HR ajustado 3,08 (CI 95%, 1,32-7,17), p=0,009]. Verificou-se também uma tendência para maior recidiva nos subtipos histológicos agressivos [HR ajustado 1,43 (IC 95%, 0,99-2,07), p<0,058].

Conclusão: Os carcinomas basocelulares recorrentes, independentemente da localização, e os carcinomas basocelulares primários em localizações de alto-risco da face, particularmente na pirâmide nasal e nas pálpebras, determinam um risco de recidiva superior e independente a longo-prazo, mesmo nas excisões “completas”. Por outro lado, as estratégias wait-and-see nos carcinomas basocelulares incompletamente excisados devem ponderar o risco de recidiva aos 5 anos (1 in 10 lesões).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Lomas A, Leonardi-Bee J, Bath-Hextall F. British Journal of Dermatology A systematic review of worldwide incidence of nonmelanoma skin cancer. Br J Dermatol. 2012;166:1069–80.

Kauvar ANB, Cronin T, Roenigk R, Hruza G, Bennett R. Consensus for Nonmelanoma Skin Cancer Treatment : Basal Cell Carcinoma , Including a Cost Analysis of Treatment Methods. 2015;550–71.

Cameron MC, Lee E, Hibler B, Barker CA, Mori S, Cordova M, et al. Basal Cell Carcinoma: Part 1. J Am Acad Dermatol [Internet]. 2018; Available from: https://doi.org/10.1016/j.jaad.2018.03.060

Otley CC, Salasch SJ. Mohs surgery: efficient and effective. Br J Ophthalmol. 2004;1:1223–9.

Codazzi D, Velden J Van Der, Carminati M, Bruschi S, Bocchiotti MA, Serio C Di, et al. Positive compared with negative margins in a single-centre retrospective study on 3957 consecutive excisions of basal cell carcinomas . Associated risk factors and preferred surgical management. J plast Surg Hand Surg. 2014;48(1):38–43.

Patel SS, Cliff SH, Booth PW. Incomplete removal of basal cell carcinoma : what is the value of further surgery ? Oral Maxillofac Surg. 2013;17:115–8.

Andersen JS, Berg D, Bowen GM, Cheney RT, Daniels GA, Glass LF, et al. Basal Cell Skin Cancer , Clinical Practice Guidelines in Oncology. J Natl Compr Cancer Netw. 2016;14(5):574–97.

Loo E Van, Mosterd K, Krekels GAM, Roozeboom MH, Ostertag JU, Dirksen CD, et al. Surgical excision versus Mohs ’ micrographic surgery for basal cell carcinoma of the face : A randomised clinical trial with 10 year follow-up q. Eur J Cancer [Internet]. 2014;50(17):3011–20. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.ejca.2014.08.018

Linos E, Parvataneni R, Stuart SE, Boscardin WJ, Landefeld CS, Chren M-M. Treatment of Nonfatal Conditions at the End of Life. JAMA Inter Med. 2017;173(11):1006–12.

Lee Dellon A, De Silva S, Connoly M, Ross A. Prediction of Recurrence in Incompletely Excised Basal Cell Carcinoma. 1984. p. 860–71.

Griffiths RW. Audit of histologically incompletely excised basal cell carcinomas : recommendations for management by re-excision. Br J Plast Surg. 1999;52(1997):24–8.

Wilson AW, Howsam G, Santhanam V, Macpherson D, Grant J, Pratt CA, et al. Surgical management of incompletely excised basal cell carcinomas of the head and neck. 2004;42:311–4.

Bichakjian C, Armstrong A, Eisen DB, Iyengar V, Lober C, Margolis DJ, et al. Guidelines of care for the management of basal cell carcinoma. J Am Acad Dermatol. 2018;78(3):540–59.

Publicado
2020-07-14
Como Citar
Duarte, B., Vieira, L., Ribeiro, L., Pessoa e Costa, T., João, A., Varanda, A., & Cabete, J. (2020). Risco de Recidiva a 5 Anos Após Excisão Convencional de um Carcinoma Basocelular. Revista Da Sociedade Portuguesa De Dermatologia E Venereologia, 78(2), 115-122. https://doi.org/10.29021/spdv.78.2.1174
Secção
Artigos Originais

Artigos mais lidos pelo mesmo (s) autor (es)