Relação entre Relação entre Urticária Crónica e Qualidade de Vida: Estudo Observacional de 112 Doentes Portugueses crónica e qualidade de vida
Resumo
Introdução: A urticária crónica é uma doença dermatológica complexa de natureza multifatorial. Apresenta uma alta prevalência em todo o mundo e dela decorre um impacto significativamente negativo na vida dos doentes. O objetivo deste estudo é avaliar o impacto da urticária crónica na qualidade de vida dos doentes portugueses, assim como no seu bem-estar mental.
Métodos: Este estudo observacional consistiu na avaliação de doentes portugueses, seguidos em consulta externa de urticária no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, tendo como instrumento de estudo os seguintes questionários: avaliação da atividade clínica da doença (UAS7), controlo da urticária (UCT), questionário de qualidade de vida em dermatologia (DLQI), questionário de qualidade de vida na urticária (CU- -Q2oL) e escala hospitalar de depressão e ansiedade (HADS). Estes resultados foram analisados e os dados relativos à qualidade de vida e ao estado de ansiedade e depressão foram relacionados com os parâmetros sociodemográficos da amostra assim como com os aspetos clínicos da urticária.
Resultados: Foram estudados 112 doentes, maioritariamente do sexo feminino (80%) com idade média de aproximadamente 46 anos, sofrendo a maioria de urticária crónica leve (de acordo com UAS7) e mal controlada (85%), segundo a classificação da UCT. Usando ambas as escalas CU-Q2oL e DLQI, obtivemos valores médios para cada, respetivamente 48,98 (±19,53), e 7,23 (±7,67), que demonstraram um alto impacto da qualidade de vida destes doentes, assim como uma relação significativa como os valores de HADS, encontrados nos doentes ansiosos (45 doentes) e deprimidos (22 doentes). Encontrou-se uma forte correlação positiva entre as escalas DLQI e CU-Q2oL e, de acordo a sua análise, o prurido, número de pápulas, qualidade do sono e sentimento de vergonha causada pelas lesões cutâneas são os parâmetros de qualidade de vida mais afetados na amostra em estudo. A qualidade de vida destes doentes varia significativamente com o género, grau de instrução, severidade clínica e grau de controlo da doença. Apesar de nem sempre relacionada diretamente, a atividade clínica da doença permanece como o fator mais significativo na qualidade de vida. Ansiedade e depressão apresentaram uma relação considerável com a qualidade de vida, no entanto não foi encontrada relação significativa entre o estado psicológico e a severidade da doença.
Discussão: Os questionários de autopreenchimento incluídos neste estudo revelaram-se bastante práticos e eficazes na avaliação clínica de doentes com urticária cónica. As características sociodemográficas dos participantes assim como a sua influência nos níveis de qualidade de vida está de acordo com a literatura consultada. Novos resultados foram encontrados relativamente ao grau de instrução. Os parâmetros de qualidade de vida mais afetados na nossa amostra são em parte discordantes com estudos realizados em outras populações, o que destaca a importância do ambiente em que o doente se insere. Esta investigação vem ainda corroborar estudos anteriores no concerne ao impacto significativo da atividade clínica da urticária e do estado emocional na sua qualidade de vida da pessoa.
Conclusão: Nos doentes portugueses com urticária crónica, é essencial estabelecer-se uma abordagem integrada que englobe tanto o controlo clínico da urticária, como o controlo da sintomatologia psicológica a ela associada.
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