DERMATOSE FEBRIL – UM DIAGNÓSTICO A NÃO ESQUECER
Resumo
Apresenta-se o caso de um doente de 46 anos, com coinfecção VIH-1/VHC e cirrose hepática, internado por febre, prostração e astenia. Ao exame objetivo, observavam-se escassas pústulas necróticas em base eritematosa acantonadas aos dedos das mãos e pés com edema, dor e limitação funcional dos mesmos e da articulação tíbio-társica esquerda. Analiticamente, apenas elevação ligeira da enzimologia hepática e da PCR. Admitiram-se as hipóteses diagnósticas de endocardite, meningococcémia ou gonococcémia. Após isolamento de Neisseria gonorrhoeae em hemocultura, iniciou-se ceftriaxone 1g/dia EV com melhoria clínica. A positividade da PCR para N. gonorrhoeae no exsudado orofaríngeo confirmou o diagnóstico de gonococcémia disseminada de ponto de partida orofaríngeo. A gonorreia é uma infeção sexualmente transmitida causada pelo diplococo Gram negativo Neisseria gonorrhoeae. A gonococcémia disseminada na forma da síndrome clássica “dermatite-artrite” acompanha apenas 1-2% das infeções mucosas. A gonorreia orofaríngea é geralmente assintomática em homens e mulheres, constituindo provavelmente um reservatório importante do agente. O aumento da incidência de gonorreia torna este caso pertinente na prática clínica actual do dermatologista.
Downloads
Referências
Skerlev M, Culav-Koscak I. Gonorrhea: new challenges. Clin Dermatol. 2014; 32:275-81.
Mehrany K, Kist JM, O’Connor WJ, DiCaudo DJ. Disseminated gonococcemia. Int J Dermatol. 2003; 42:208-9.
Bardin T. Gonococcal arthritis. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2003; 17(2):201-8.
Feingold DS, Peacocke M. Gonorrhea. In: Freedberg IM, Eisen AZ, Wolff K, et al, editors. Fitzpatrick’s Dermatology in General Medicine. New York: McGraw-Hill, 2001.p.931-7.
Gonzalez-Juanatey C, Gonzalez-Gay MA, Llorca J, Crespo F, Garcia-Porrua C, Corredoira J, et al. Rheumatic manifestations of infective endocarditis in non-addicts. A 12-year study. Medicine. 2001; 80:9-19.
Durand ML, Calderwood SB, Weber DJ, Miller SI, Southwick FS, Caviness VS Jr, et al. Acute bacterial meningitis in adults. A review of 493 episodes. N Engl J Med. 1993; 328:21.
Carlin E, Ziza J, Keat A, Janier M. 2014 European Guideline on the management of sexually acquired reactive arthritis. Int J STD AIDS. 2014; 25(13):901-12.
Bignell C, Unemo M. 2012 European Guideline on the Diagnosis and Treatment of Gonorrhoeae in Adults. Int J STD AIDS. 2013; 24(2):85-92.
Manavi K, Young H, McMillan A. The outcome of oropharyngeal gonorrhea treatment with different regimens. Int J STD AIDS. 2005; 16:68-70.
Moran JS. Treating uncomplicated Neisseria gonorrhoeae infections: is the anatomic site of infection important? Sex Transm Dis. 1995; 22(1):39-47.
European Centre for Disease Prevention, Control (ECDC). Annual epidemiological report: reporting on 2011 surveillance data and 2012 epidemic intelligence data. 2013. [9th August 2014] [http://www.ecdc.europa.eu].
Direcção Geral de Saúde. Doenças de Declaração obrigatória: 2009-2012. Volume II. 2014. [12th September 2014] [http://www.dgs.pt].
European Centre for Disease Prevention, Control (ECDC). Gonococcal antimicrobial susceptibility surveillance in Europe – 2010. Stockholm: ECDC. 2012. [9th August 2014] [http://www.ecdc.europa.eu].
Tavares E, Fernandes C, Borrego M, Rodrigues A, Cardoso J. Resistência aos antibióticos em Neisseria gonorrhoeae – passado, presente e futuro. Rev Soc Port Dermatol Venereol. 2013; 70(4), 483-93.
Metzger AL. Gonococcal arthritis complicating gonorrheal pharyngitis. Ann Intern Med. 1970; 73(2):267-9.
Morris SR, Klausner JD, Buchbinder SP, Wheeler SL, Koblin B, Coates T, et al. Prevalence and incidence of pharyngeal gonorrhea in a longitudinal sample of men who have sex with men: the EXPLORE study. Clin Infect Dis. 2006; 43:1284-9.
Koedijk FD, van-Bergen JE, Dukers-Muijrers NH, van-Leeuwen AP, Hoebe CJ, van-der-Sande MA. The value of testing multiple anatomic sites for gonorrhea and chlamydia in sexually transmitted infection centers in the Netherlands, 2006-2010. Int J STD AIDS. 2012; 23:626-38.
Janier EM, Lassau F, Casin I, Morel P. Pharyngeal gonorrhea: the forgotten reservoir. Sex Transm Infect 2003; 79:345-352.
Todos os artigos desta revista são de acesso aberto sob a licença internacional Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 (CC BY-NC 4.0).