DERMATOSE FEBRIL – UM DIAGNÓSTICO A NÃO ESQUECER

  • Pedro Mendes-Bastos Interno de Dermatovenereologia, Serviço de Dermatologia e Venereologia, Hospital de Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Vasco Coelho-Macias Assistente Hospitalar de Dermatovenereologia, Serviço de Dermatologia e Venereologia, Hospital de Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Cândida Fernandes Assistente Hospitalar Graduada de Dermatovenereologia, Serviço de Dermatologia e Venereologia, Hospital de Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Jorge Cardoso Diretor de Serviço, Serviço de Dermatologia e Venereologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
Palavras-chave: Gonorreia, Doenças da pele, Doença bacteriana de transmissão sexual, Febre

Resumo

Apresenta-se o caso de um doente de 46 anos, com coinfecção VIH-1/VHC e cirrose hepática, internado por febre, prostração e astenia. Ao exame objetivo, observavam-se escassas pústulas necróticas em base eritematosa acantonadas aos dedos das mãos e pés com edema, dor e limitação funcional dos mesmos e da articulação tíbio-társica esquerda. Analiticamente, apenas elevação ligeira da enzimologia hepática e da PCR. Admitiram-se as hipóteses diagnósticas de endocardite, meningococcémia ou gonococcémia. Após isolamento de Neisseria gonorrhoeae em hemocultura, iniciou-se ceftriaxone 1g/dia EV com melhoria clínica. A positividade da PCR para N. gonorrhoeae no exsudado orofaríngeo confirmou o diagnóstico de gonococcémia disseminada de ponto de partida orofaríngeo. A gonorreia é uma infeção sexualmente transmitida causada pelo diplococo Gram negativo Neisseria gonorrhoeae. A gonococcémia disseminada na forma da síndrome clássica “dermatite-artrite” acompanha apenas 1-2% das infeções mucosas. A gonorreia orofaríngea é geralmente assintomática em homens e mulheres, constituindo provavelmente um reservatório importante do agente. O aumento da incidência de gonorreia torna este caso pertinente na prática clínica actual do dermatologista.

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Publicado
2015-06-06
Como Citar
Mendes-Bastos, P., Coelho-Macias, V., Fernandes, C., & Cardoso, J. (2015). DERMATOSE FEBRIL – UM DIAGNÓSTICO A NÃO ESQUECER. Revista Da Sociedade Portuguesa De Dermatologia E Venereologia, 73(1), 141-145. https://doi.org/10.29021/spdv.73.1.356
Secção
Casos Clínicos