Porque Suspendemos os Agentes Biológicos? Estudo Retrospectivo de 11 Anos

  • Francisco Gil Serviço de Dermatologia, Hospital de Santarém EPE, Santarém, Portugal https://orcid.org/0000-0002-5270-999X
  • Margarida Rato Serviço de Dermatologia, Hospital de Santarém EPE, Santarém, Portugal; Serviço de Dermatologia, Centro Hospitalar de Tondela-Viseu, Viseu, Portugal
  • Ana Monteiro Serviço de Dermatologia, Hospital de Santarém EPE, Santarém, Portugal
  • Joana Parente Serviço de Dermatologia, Hospital de Santarém EPE, Santarém, Portugal
  • César Martins Serviço de Dermatologia, Hospital de Santarém EPE, Santarém, Portugal
  • João Aranha Serviço de Dermatologia, Hospital de Santarém EPE, Santarém, Portugal
  • Maria João Silva Serviço de Dermatologia, Hospital de Santarém EPE, Santarém, Portugal
Palavras-chave: Suspensão do Tratamento, Terapia Biológica/efeitos adversos

Resumo

Introdução: Os agentes biológicos assumiram uma relevância crescente no âmbito da Dermatologia. Contudo, os eventos adversos (EA) associados a estes tratamentos e as razões para a sua suspensão não estão totalmente esclarecidos. O Objectivo deste estudo é analisar os motivos que conduziram à suspensão de terapêuticas biológicas e caracterizar o perfil de EA na população de doentes sob esta terapêutica.

Material e Métodos: Estudo observacional descritivo dos doentes acima de 18 anos sob terapêutica biológica no Serviço de Dermatologia do Hospital de Santarém EPE, entre Janeiro/2007 e Dezembro/2017. Foram avaliadas as causas de suspensão terapêutica, definida como a omissão de pelo menos 2 administrações consecutivas do fármaco, independentemente do motivo implicado e da existência, ou não, de recomendação médica para tal.

Resultados: Foram avaliados 262 ciclos de tratamento, correspondentes a 138 doentes. Psoríase foi o diagnóstico predominante (93,5% dos doentes). Foram avaliados ciclos de tratamento com 8 biológicos, tendo o etanercept (46,6%), o adalimumab (31,3%) e o ustecinumab (12,6%) sido os mais representados. No período em estudo registaram-se 167 suspensões, invocando-se 170 justificações. Os fundamentos mais frequentes para a suspensão dos biológicos foram: falência primária ou secundária (35,3%), EA (31,2%), factores relacionados com o doente/má adesão à terapêutica (17,1%), intervenção cirúrgica (7,1%) e excelente resposta clínica/ausência de lesões (6,5%). Nas suspensões terapêuticas motivadas por EA (n=53), as infecções foram a causa mais frequente (35,8%, n=19), seguidas de neoplasias (15,1%, n=8), alterações hematológicas (13,2%, n=7), sintomatologia neurológica (9,4%, n=5) e reacções no local da injecção (5,7%, n=3).

Conclusão: A principal causa de suspensão de biológicos foi a falência terapêutica, logo seguida dos EA. Dois padrões distintos de suspensão dos biológicos foram aparentes: a descontinuação definitiva, geralmente decretada pelo médico por falência terapêutica primária ou secundária, e a suspensão temporária, frequentemente sem indicação médica formal, por EA, mais tarde retomando o mesmo agente biológico. Determinámos uma incidência superior de ciclos terapêuticos suspensos por EA do que o reportado na literatura. As suspensões temporárias por EA, frequentemente não valorizadas pelo dermatologista, são provavelmente sub-reconhecidas e contribuem para um padrão deficitário de utilização dos biológicos, com prejuízo dos resultados clínicos obtidos.

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Publicado
2020-07-14
Como Citar
Gil, F., Rato, M., Monteiro, A., Parente, J., Martins, C., Aranha, J., & Silva, M. J. (2020). Porque Suspendemos os Agentes Biológicos? Estudo Retrospectivo de 11 Anos. Revista Da Sociedade Portuguesa De Dermatologia E Venereologia, 78(2), 123-128. https://doi.org/10.29021/spdv.78.2.1175
Secção
Artigos Originais